Ganhei de minha família o livro Ecos do Mundo, de Eça de Queiroz.
Da apresentação, feita por Rodrigo Lacerda: “Todos conhecem o Eça ficcionista. Menos conhecido é o Eça jornalista. E no entanto o humor, a ironia, a inteligência aguda e a maestria no uso da língua são constitutivos de ambos.”
Trecho do artigo O Brasileiro (publicado no periódico As Farpas em fevereiro de 1872): “Há longos anos o brasileiro (não o brasileiro brasílico, nascido no Brasil, mas o português que emigrou para o Brasil e que voltou rico do Brasil) é entre nós o tipo de caricatura mais francamente popular. Cada nação possui, assim, um tipo criado para o riso público. (…)
“Nós temos o brasileiro: grosso, trigueiro com tons de chocolate, pança ricaça, joanetes nos pés, colete e grilhão de ouro, chapéu sobre a nuca, guarda-sol verde, a vozinha adocicada, olho desconfiado e um vício secreto. É o brasileiro: ele é o pai achinelado e ciumento dos romances românticos, o gordalhufo amoroso das comédias salgadas; o figuração barrigudo e bestial dos desenhos facetos; o maridão de tamancos, sempre traído, de toda boa anedota.
(…)
“Pois bem! É uma injustiça que assim seja. E nós, os portugueses que cá ficamos, não temos o direito de nos rirmos dos brasileiros que de lá voltaram. – Porque, enfim, o que é o brasileiro? É simplesmente a expansão do português.
(…)
“Pois bem! O brasileiro é o português – dilatado pelo calor.”
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Para nós, filhos sortudos da língua-mãe portuguesa, a vantagem de se ler Eça é a mesma de se ler Camões, Bandeira e Rosa – não há a traição da tradução.
A antologia está dividida em quatro partes: Brasil, Inglaterra, França e Mundo.
Ecos do Mundo – Eça de Queiroz – Editora Carambaia – 448 páginas.
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