Trecho do livro Nós e a Europa Germânica, de Gilberto Freyre (Grifo Edições, 1971, pág. 99-100)

Não faz muito tempo, um nosso compatriota residente em São Paulo, Alexandre Haas, transmitiu-me a informação de ter encontrado “num livro publicado em Seipzig, em 1910, por um Signor Salterino, sobre artistas célebres na Alemanha no decorrer do séxulo passado, referência a uns Freires – isto mesmo, Freires – artiastas brasileiros que se teriam tornado famosos entre alemães – em cuja sociedade teriam também se integrado de todo, germanizando-se. Não eram cantores de ópera nem mesmo de opereta; nem de teatro dramático ou mesmo cômico. Eram simplesmente acrobatas dos chamados artísticos: “Los Freire”. “Los Freire” teriam, já germanizados, vindo ao Brasil trazidos – ainda segundo aquele informante paulista – pela Empresa Cateysson, antecessora da Pascoal Segreto. Assunto que bem poderia ser esclarecido por um mestre neste gênero de pesquisas – a história de artistas e de empresas de teatro no Brasil – Brício de Abreu. Ou, ainda, pelos eruditos do Instituto Hans Staden, de São Paulo – tão pacientes quanto bem orientados nos seus estudos.

Como já indaguei em pequeno artigo publicado numa revista do Rio: quem seriam aqueles Freires? De que parte do Brasil? Que se sabe hoje dos seus descendentes alemães? Terá seu nome galaico-português – rigorosamente Freyre com y – se germanizado, por vezes, em Freyer?

Quase sagrada como é, para mim, a memória de um meu tio-bisavô, sacerdote e padre-mestre, desconheço, entretanto, a excelência – ou não – dos seus sermões. Mas não hesitaria em cultuar também a memória quase mundana de uns vagos “Los Freire” que, desgarrados do Brasil na Alemanha, terão sido, possivelmente, meus parentes, emigrados do trópico para terras frias. Freires – ou Freyres – artistas do trapézio; e talvez primos do Freire – ou Freyre – padre-mestre.

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