Massacre em Pequim – A luta inglória que banhou de sangue a Praça da Paz Celestial é um livro de Harrison E. Salisbury, escrito em 1989.

Trecho da apresentação:

A 1° de junho de 1989, Harrison E. Salisbury foi a Pequim para fazer um documentário de televisão para a rede NHK, do Japão, sobre os primeiros quarenta anos da República Popular da China. Ganhador do Prêmio Pulitzer pelo New York Times, o jornalista e autor de muitos livros sobre a China e a Rússia hospedou-se no Hotel Pequim, com sua equipe. Já estivera na China várias vezes antes, mas jamais poderia imaginar que de sua janela do quarto 735, que dava para a Tiananmen, a Praça da Paz Celestial, estava prestes a testemunhar e registrar uma das mais violentas e misteriosas sublevações na China.

Trecho do livro:

Confesso que fui um dos que pensaram que os estudantes na Praça da Paz Celestial poderiam mudar os pensamentos dos homens obstinados que dirigem o país. É verdade, até mesmo Deng Xiaoping.

Eu era tão ingênuo quanto os jovens de Nankai que encontrei na praça. Julguei que ele e seus companheiros eram a onda do futuro. À semelhança de muitos americanos, sentia um grande orgulho da juventude, tão intrépida, tão idealista.

Compreendo agora que a China ainda é dominada por seus três grandes símbolos: O rio Amarelo, a Grande Muralha e o Dragão. Acredita-se que o rio Amarelo deu origem à civilização chinesa, há milhares de anos, em seu fértil solo aluvial, e definiu a China como um país fluvial, não como um país oceânico. A China ainda vive pelas águas amarelas do rio, não pelos mares azuis do oceano, virando-se para dentro e não para fora, ao contrário dos homens da Renascença e dos corsários da rainha Isabel. O povo e seus dirigentes ainda não começaram a perceber que a Grande Muralha serve para manter o povo dentro, não apenas os invasores fora; que os muros e pátios em que se mantêm, os enormes muros de cor magenta que cercam a Cidade Proibida e Zhongnanhai, confinam também as mentes, não apenas os corpos. E o Dragão ainda reina supremo, o dragão benevolente da China que protege a nação, protege o trono, protege as dinastias, protege as pessoas… desde que não ameacem sua ordem.

Compreendo agora que esses mitos ainda mantêm a China sob sua influência. O documentário de televisão Elegia do Rio Amarelo, que os contestou, não foi capaz de arrancar a China de suas antigas fundações.

– Se eles ao menos discutissem as ideias – comentou o diretor do documentário na noite anterior ao troar dos canhões na Tiananmen -, não estariam nesta situação.

Ele estava certo, mas agora, receio, anos se passarão antes que os sonhos dourados da Elegia brilhem através das nuvens escuras do Dragão, derrubem a barreira da Grande Muralha e levem a China do limo do rio Amarelo para as águas puras e azuis do mar e as extensões intermináveis do espaço.

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