“É inadmissível morrer tanta gente no trânsito. A prefeitura está implementando as Áreas Calmas, vamos diminuir a velocidade, no trânsito somos todos responsáveis, vamos aumentar a fiscalização, estamos instalando novos radares…”
O motoboy não viu o buraco. Não viu porque não podia ver. Estava camuflado pela faixa de pedestres. Mesmo que não estivesse, a sua existência só podia ser notada bem de perto e olhando bem. O fato é que o motoboy nem viu o que o derrubou. Capotou e foi atirado longe.
Onde caiu, ficou.
O resgate demorou e o peito doía muito.
Quando foi colocado na maca, gritou de dor.
E a moto? E a mochila? E o celular? Nessas horas, o que não falta é gatuno.
“O trânsito da cidade vai se transformar em trânsito de Primeiro Mundo. Vamos dar preferência ao transporte público e ao transporte alternativo, estamos revitalizando as ciclovias… a fiscalização… os radares…”
E os filhos? E o aluguel? E o trabalho?
Na repartição pública, um burocrata ressonava…
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