Desço a Martim Francisco e paro no semáforo da rua das Palmeiras.

Pra quem não conhece a região, essas ruas ficam no bairro de Santa Cecília, São Paulo, perto da cracolândia e ainda mais perto do restaurante Bom Prato, do governo do estado, que oferece café da manhã e almoço a preços subsidiados, bem subsidiados.

Por isso, muitas pessoas empobrecidas – pedintes e aposentados, estranha coincidência – podem ser vistas na fila. Também por isso, é abundante o número de pedintes nos semáforos da região, sempre com algumas moedas na mão e pedindo moedas para inteirar o almoço.

Desci a Martim Francisco, parei no farol da rua das Palmeiras e logo um pedinte, mostrando as suas moedas na palma da mão para que eu conferisse a quantia, me abordou:

– Tem 25 centavos pra inteirar o almoço?

Baixei o vidro do carro e respondi que, infelizmente, estava desprevenido.

Quando você baixa o vidro do carro e dá atenção ao pedinte, muitos se surpreendem. Alguns chegam mesmo a agradecer pelo gesto. Outros até me parabenizam. Num tempo de vidros escuros – estilo não me encha o saco, ou vá se danar – é realmente uma surpresa que alguém se digne a conversar com um pedinte.

– Não tem nem 10 centavos? tornou o mendigo.

Me faltam palavras e faço um gesto negativo.

– Tá ruim assim, é?! conclui o mendigo enquanto se afasta…

O tom da frase teve um misto de constatação com resignação, talvez decepção, de alguém que, desesperançado, perambula por Santa Cecília, bairro que separa Higienópolis da cracolândia.

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