O mais importante desertor da Guerra Fria explica o verdadeiro motivo das imigrações em massa.
Tradução do artigo Shocking, Hidden Agenda Behind Border Crisis, do general Ion Mihai Pacepa, publicado no WND em 24 de junho de 2014.
Virtualmente todos os 1.087 comentários do recente editorial do Wall Street Journal Immigration Reform Can’t Wait, de Rupert Murdoch, proprietário desse prestigioso jornal, discordavam do apelo do artigo por um imediato “caminho de cidadania” para todos os nossos milhões de imigrantes ilegais.
A discordância é historicamente significativa: os americanos estão começando a ver através do espesso véu de desinformação elaborado para esconder a arma secreta de inteligência – a imigração em massa – sob a máscara do humanitarismo.
“Não se trata de crise humanitária,” declarou a National Association of Former Border Patrol Officers. “É um ataque previsível, orquestrado e artificial contra os bem-intencionados americanos”. Dois congressistas declararam que as ondas de crianças estrangeiras ilegais nas fronteiras do sul dos EUA devem derivar de uma estratégia secreta para transformar o país em um estado socialista.
Não me entenda mal. Sou um conservador que gosta da Fox News, escrevi várias vezes no Wall Street Journal e eu mesmo sou um imigrante – na verdade, paguei com duas sentenças de morte (no meu país de origem, a Romênia) pelo privilégio de me tornar um cidadão desse grande país.
Mas, na minha outra vida, como um dos mais altos membros da KGB, estive envolvido em uma operação super-secreta destinada a mudar a aliança da Europa Ocidental e Israel para longe dos EUA e do capitalismo e para perto do bloco soviético e do socialismo enchendo o Ocidente com levas de imigrantes e escondendo esse ataque sob a desinformante máscara de “humanitarismo”.
Após eu ter desertado, expus essa ofensiva anti-americana de imigração em massa ao presidente Carter – que escreveu a respeito: “Tudo novidade para mim” – e em meu livro Red Horizons, cujo motto era Gutta cavat lapidem, non vi sed saepe cadendo (Uma gota faz um furo na pedra não pela força mas pelo gotejar contínuo). Esse era o ditado da KGB, insinuando como a imigração em massa moveria a Europa Ocidental e Israel para o nosso lado: gota a gota mais gota. Poderia demorar mas, onde fosse impossível usar uma broca, essa era a melhor maneira de fazer um furo.
No ano passado, expus novamente essa antiga ofensiva no livro Disinformation, escrito em co-autoria com o professor Ronald Rychlak, pois a Rússia atual se tornou uma ditadura da KGB (renomeada FSB). E, assim como outras campanhas de desinformação passadas e presentes reveladas por mim no livro, hoje a imigração em massa virou uma arma emocional usada contra o próprio Estados Unidos.
Eis um resumo da conjuntura de desinformação da imigração em massa da KGB:
Após a morte de Stalin, a sua teoria “imutável” da revolução proletária mundial foi substituída pelo “caminho para o poder por meio das leis” de Khrushchev. As insurreições comunistas acabaram. As imigrações em massa – de propagandistas do bloco soviético – começaram. Funcionou. Em meados da década de 1950, cerca de 30 milhões de pessoas da Europa Ocidental estavam votando no Partido Comunista. O comunismo não foi imposto à força, como fôra na Europa Oriental, mas essa não é a história completa. O nosso plano de imigração em massa, apoiado por inúmeras organizações de refugiados financiadas por nós no Ocidente, teve tanto sucesso que até começamos a vender os nossos cidadãos para os países capitalistas por um alto preço.
A Alemanha Ocidental se tornou a minha meta pessoal em 1956, ano em que fui designado chefe da sucursal de espionagem romena naquele país. As minhas diretrizes operacionais, escritas por consultores da KGB, se assemelhavam a um plano quinquenal para transformar a Alemanha Ocidental em um país socialista inundando-o com imigrantes de origem alemã. Moscou acreditava que o fluxo massivo de imigrantes dos países do bloco soviético não apenas propagaria os milagres do socialismo na Alemanha Ocidental mas também sobrecarregaria a sua burocracia governamental, comprometeria o tesouro nacional, provocaria o caos econômico e influenciaria as eleições para o lado da legenda socialista.
A KGB não foi capaz de transformar a Alemanha Ocidental em um país socialista, mas não foi por falta de tentar. Até o fim da minha vida na Romênia, a Alemanha Ocidental havia sido inundada de imigrantes do bloco soviético. Logicamente, a Stasi (polícia secreta) da Alemanha Oriental tinha uma vantagem ímpar mas a Romênia vinha em segundo lugar devido à sua grande minoria alemã.
No fim da década de 1960, a contribuição romena para esse imenso fluxo de imigrantes recebeu um reforço especial quando o governo de Bonn discretamente fez saber que estava disposto a pagar para o governo de Bucareste – em dólares e em dinheiro vivo = por todo romeno de ascendência alemã autorizado a imigrar para a Alemanha Ocidental.
De acordo com um livro publicado por um ex-embaixador alemão oriental designado para a Romênia que manteve registros desse tráfico humano, Bucareste vendeu 200 mil Volksdeutsche (etnia alemã vivendo fora do Reich) até 1989, quando o bloco soviético colapsou. [1] Alguns desses Volksdeutsche que emigraram para a Alemanha Ocidental eram agentes de inteligência treinados para plantar a semente do anti-americanismo. Dos demais apenas se esperava que popularizassem o conceito socialista “do-berço-ao-túmulo” – o bem-estar proporcionado pelo Estado. As pessoas do mundo inteiro adoram almoço grátis.
No começo da década de 1970, quando a Alemanha Ocidental abriu as fronteiras para os imigrantes iuguslavos, requisitados como trabalhadores convidados, o serviço de inteligência internacional de Tito entrou na briga. De acordo com Silvo Gorenc, meu colega iuguslavo, quase um milhão de refugiados iuguslavos foram mandados para a Alemanha Ocidental. Em meados da década de 1970, quando a Alemanha Ocidental começou a importar trabalhadores convidados também da Turquia, o serviço de espionagem romeno começou a recrutar romenos de origem turca (a Romênia tem uma grande comunidade turca) e despachá-los para a Alemanha Ocidental – diretamente ou via Turquia.
Aqui não é o lugar para descrever os detalhes desse colossal esforço de imigração em massa. Basta dizer que a taxa de imigração per capita da Alemanha na década de 1980 era substancialmente maior do que a dos Estados Unidos e que hoje há mais de 15 milhões de descendentes de imigrantes vivendo na Alemanha, cuja população é de 82 milhões de habitantes. Pouco antes de eu deixar a Romênia para sempre (NT: em 1978), o DIE (serviço de inteligência internacional da Romênia, que eu chefiei) recebeu uma carta assinada pelo chefe da KGB, Yuri Andropov, afirmando que a nossa ofensiva imigratória contra a Alemanha Ocidental tivera uma papel significativo na adoção, pelo governo e parlamento daquele país, da política Ostpolitik (“uma abertura para o Oriente”).
Em abril de 1974, tive a minha última reunião com Willy Brandt, o chanceler que elaborou a Ostpolitik alemã-ocidental. Brandt parecia aflito. Ele sequer comentou a sua badalada Ostpolitik comigo, como então costumava fazer. Isso foi logo após a prisão de Günther Guillaume, acusado de ser oficial ilegal da Stasi, [2] e Brandt não conseguia falar de outra coisa.
Guillaume, um dos imigrantes da Alemanha Oriental, converteu-se num forte membro do SPD, partido socialista da Alemanha Ocidental [3] e um conselheiro de confiança do próprio chanceler Brandt. Guillaume havia sido fundamental em persuadir o socialista Brandt a rejeitar a Doutrina Hallstein, da Alemnha Ocidental, adotada pelo chanceler conservador Konrad Adenauer, que havia afirmado que a Alemanha Ocidental era a única representante de toda a nação alemã. Giullaume também influenciou Brandt a assinar um acordo com a União Soviética reconhecendo oficialmente a existência da Alemanha Oriental. A prisão de Guillaume como espião soviético foi simplesmente devastador, e Brandt admitiu para mim que se sentia traído.
Um mês depois, Brandt escreveria para o presidente da Alemanha Ocidental: “Eu reconheço a minha responsabilidade política por negligência no caso de espionagm Guillaume e comunico a minha demissão do cargo de chanceler federal”.[4]
Em 1998, o chanceler alemão Gerhard Schroeder, outro socialista pró-soviético, foi fundamental na concessão de cidadania em massa para a maioria dos imigrantes alemães. Isso fez desses imigrantes uma força política poderosa. Durante aquele mesmo ano de 1998, Joschka Fischer, cujos pais haviam imigrado da Hungria, se tornou vice-chanceller da Alemanha Ocidental. Rapidamente, a imprensa alemã descobriu que Fischer havia sido filiado à Revolutionärer Kampf, organização terrorista financiada pela KGB, e que em 1969 ele havia participado de uma reunião da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) na Algéria na qual a entidade havia adotado uma resolução para chegar à vitória final contra Israel. Bettina Roehl, jornalista alemã filha do falecido Ulrike Meinhof, co-líder do grupo terrorista Baader-Meinhof, provou que Fischer realmente havia sido terrorista durante a década de 1970. Ela apresentou fotografias de Fischer, de capacete, espancando um oficial de polícia alemão, Rainer Marx, durante uma violenta manifestação em Luisenplatz (Frankfurt/Main) no dia 7 de abril de 1973. Em 2002, Joschka Fischer pediu publicamente desculpas a Rainer Marx, o policial espancado.
O anti-americanismo semeado pelas políticas de imigração em massa de Schroeder-Fischer deu frutos.
Em junho de 2002, um documentário sobre os “crimes de guerra dos EUA” no Afeganistão foi exibido no Bundestag (NT: parlamento alemão). E em 19 de setembro de 2002, Herta Dauebler-Gmelin, uma ministra do gabinete alemão, comparou o presidente George W. Bush a Adolf Hitler.
A Alemanha Ocidental subsequentemente se rebelou contra a política de imigração em massa de Schroeder e em 2005 tirou-o do poder por meio do voto, a despeito da votação que ele obteve dos milhões de imigrantes que recentemente haviam obtido cidadania. Schroeder se aposentou da política e Fischer se mudou para a calma e frondosa Princeton University nos EUA para escrever as suas memórias e ensinar ciência política.
Logo em seguida, a Alemanha ficou atônita ao saber que Schroeder estava ocupando um alto cargo na companhia russa Gazprom. Em um editorial intitulado “Gerhard Schroeder Sellout” (NT: A Traição de Gerhard Schroeder), o Washington Post afirmou:
É o tipo de comportamento que – infelizmente – temos previsto no Congresso. Mas quando Gerhard Schroeder, ex-chanceler alemão, anunciou na semana passada que estava indo trabalhar na Gazprom, gigante russa de energia, ele se catapultou para um patamar diferente. Uma coisa é um legislador se desligar do seu emprego, deixar o comando de um comitê e ir trabalhar para uma companhia sobre cuja setor ele um dia teve autoridade. Outra coisa bem diferente é o chanceler da Alemanha – uma das maiores economias do mundo – deixar o seu emprego e ir trabalhar para uma companhia controlada pelo governo russo que está ajudando a construir um gasoduto no Mar Báltico, gasoduto pelo qual ele lutou enquanto estava no cargo de chanceler. Para tornar a decisão ainda mais intragável, ocorre que o chefe executivo do consórcio do gasoduto é ninguém menos que um antigo oficial do serviço secreto da Alemanha Oriental, amigo de Wladimir Putin, o presidente russo, da época em que Putin era um agente da KGB na Alemanha Oriental. Só por isso, Schroeder merece opróbrio por seu mau gosto.
Em abril de 2006, Radoslaw Sikorski, então ministro da defesa polonês, comparou o projeto desse gasoduto com o infame Pacto Hitler-Stalin de 1939 que redesenhou o mapa da Europa.[5] Realmente, a atual dependência do gás russo impediu a Europa Ocidental de atuar com decisão contra o roubo da Criméia por Putin e contra os seus ulteriores esforços para reconstruir a antiga União Soviética, cuja dissolução, do ponto de vista de Putin, “foi a maior catrástrofe geopolítica do século”.
Eu não estou mais no olho do furacão e, é claro, não tenho provas de que a KGB/FSB tem um dedo em nossa atual crise de imigração em massa. Entretanto, dias atrás eu vi, na Fox News, milhares de imigrantes ilegais que marchavam por Washington, D.C., cantando: “Hoje caminhamos, amanhã votaremos”.
Esse era um dos slogans do antigo Gutta cavat lapidem da KGB.
Eu sei que não sou politicamente correto. Mas também sei que, em 1978, quando eu rompi com o bloco soviético, a KGB era um estado dentro de um estado e que hoje a KGB (qualquer que seja o seu nome) está governando o estado.
“Não existe ex-oficial da KGB!” disse uma vez o presidente Putin para seus subordinados. “Um oficial da KGB só nos deixa com os pés juntos!”
Essas eram as mesmas velhas frases que eu costumava ouvir na minha outra vida, no primeiro escalão da KGB.
Na minha outra vida, a comunidade da KGB estava profundamente envolvida em disseminar o anti-americanismo na América do Sul, cujo mapa hoje se tornou majoritariamente vermelho. Os consultores da KGB e os navios militares e os bombardeiros russos estão de volta a Cuba – e mais recentemente na Venezuela – pela primeira vez desde a crise dos mísseis. Nicarágua, Honduras e Argentina fazem parte do rebanho russo. O Brasil, a décima maior economia do mundo, até colocou uma antiga combatente da guerrilha inspirada pela KGB, Dilma Rousseff, na presidência do país.
Tudo isso me dá fortes razões para suspeitar do dedo da KGB na atual onda de imigração em massa de crianças da América do Sul lançada contras as nossas fronteiras do sul.
Durante os anos da minha outra vida, a KGB estava ocupada disseminando o terrorismo na América do Sul, Europa Ocidental e Oriente Médio com a ajuda da imigração em massa. A atual imigração em massa de terroristas do ISIS no Iraque e na Síria sugere ainda mais que a Rússia de hoje – agora governada pelo aparato de inteligência – está usando com sucesso a arma secreta da KGB de imigração em massa também naquela parte do mundo.
Eu tenho fortes razões para acreditar que uma política ampla para lidar com a Rússia, que está construindo um novo eixo anti-americano – Teerã-Pequim-Caracas – e o maior cartel de petróleo da história, é bem mais importante agora do que conceder cidadania a milhões de imigrandes ilegais que invadiram o nosso país.
Tornar-se um cidadão desse grande país, na minha modesta visão, é uma honra, não um direito. Para Elie Wiesel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, também nascido na Romênia, a América tem sempre simbolizado a esperança – não cidadania antecipada nem almoço grátis. “A esperança é uma palavra-chave no vocabulário de homens e mulheres como eu e como tantos outros que descobriram na América a força para superar o cinismo e o desespero”, disse ele. Elie Wiesel sabe melhor do que ninguém o significado real da esperança. Foi a esperança de que a América derrotaria os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e certamente iria resgatá-lo que o manteve vivo no campo de concentração alemão.
Há milhões de pessoas que, como Wiesel e como eu, estão dispostas a começar a vida do zero pelo privilégio de viver nessa magnânima terra de liberdade. Espero que consigam. Mas seguindo as tradições e as leis americanas que fizeram desse país o bastião do mundo inteiro.
[1] Erwin Wickert, Die Glücklichen Augen: Geschichten aus meinem Leben (Stuttgart and Munich: Deutsche Verlagsanstalt, 2001), passim.
[2] Na terminologia da inteligência soviética, o termo “oficial ilegal” designava um oficial de inteligência que estava alocado sob cobertura não-oficial, normalmente – mas não sempre – em codinome.
[3] Sozialdemokratische Partei Deutschlands.
[4] The History of Espionage, capítulo “Günther Guillaume, Soviet Spy in West Germany.”
[5] Polish Defense Minister’s Pipeline Remark Angers Germany”, Voice of America Online, 2006-05-03.
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