Vendo o festival de barbaridades que é o trânsito brasileiro, talvez você pense que sempre foi assim. Vou contar para você como era feita uma ultrapassagem noturna na década de 1960, em que eu cresci.
Meninos, eu vi!
O veículo de trás se aproximava a uma velocidade superior ao veículo da frente e se posicionava atrás dele. O veículo da frente, então, desligava os faróis para que o motorista de trás pudesse ver, na escuridão da noite, o feixe de luz de algum veículo que viesse na direção contrária. O motorista do veículo de trás, por sua vez, desligava também os faróis para completar a escuridão. Pista limpa, começava a ultrapassagem. O veículo da frente ligava o farol alto para que o de trás pudesse ver bem a estrada. Quando o veículo de trás já estava ultrapassando o da frente, era a vez dele ligar o farol alto; o veículo que estava sendo ultrapassado desligava o farol. Tudo isso era feito com o auxílio das setas, equipamento essencial para a comunicação. Como o procedimento demorava alguns segundos, dava tempo para os motoristas, em plena ultrapassagem, desligarem os faróis para garantir que não vinha ninguém na direção contrária – a calma e a escuridão da noite contrastavam com a velocidade dos veículos e o ronco dos motores, transformando uma mera ultrapassagem num episódio de sonho e camaradagem de um Brasil que se perdeu.
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