Numa loja de quimquilharias na periferia da Grande São Paulo, estou parado frente a uma prateleira repleta de ferramentas e graxas. Ao meu redor, bacias e panelas, talheres e tapetes, caixas e varais. A prateleira masculina é um oásis na imensidão de apetrechos para o lar.
Observo os meus poucos colegas de sexo. Ao passarem em frente da minúscula seção, são fisgados e atraídos como que por um ímã. No brilho dos seus olhos, vejo os sonhos de quebrar e arrebentar, construir e envernizar.
Eis, porém, que uma voz feminina vem quebrar o encanto:
— Zé, vem ver a panela!
Como que subtraído de um sonho profundo, o homem acorda imediatamente e, como uma mola, vai em busca da esposa. A voz da mulher veio carregada de sutilezas que exigiriam o gênio de Shakespeare ou Dante para decifrá-las – uma voz de império e ironia ao mesmo tempo.
— Aqui é meu território, quem manda sou eu; deixe de lado essas porcarias para cuidar do carro. Veleidades de menino…
Lembrou-me Edith Stein: a mulher, no mundo, é ajudante do homem; o homem, no lar, é ajudante da mulher.
Mais Edith, menos Judith.
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