A notícia do momento é a privatização da Eletrobrás. O governo está louco para vendê-la e matar dois coelhos de uma vez: se livra de despesas e ganha uma nota preta.

Aliás, é nota preta ou nota negra? Nesses tempos politicamente corretos e de perseguição pelo Ministério Público e pelas patrulhas de comunistas e de controle da linguagem, nem sei mais o que escrever. E, por falar em controle da linguagem – essa estratégia revolucionária em que as reformas ortográficas têm o papel fundamental de destruição da tradição do idioma -, Eletrobrás tem acento?

Com acento ou sem, o governo está decidido a vendê-la. Com a falta de grana generalizada, vai ser um reforço e tanto para os cofres do governo. Ao mesmo tempo, o governo vai se livrar de um elefante branco que só dá despesa e só serve de cabide de emprego e é motivo de encheção de saco. Os colegas da imprensa vivem pressionando por resultados e por um bom serviço, que coisa!

— Estão querendo que a gente trabalhe, ainda por cima?

Os opositores do governo já começaram a gritaria histérica. Isso é porque eles estão na oposição. Se estivessem mandando, seriam eles a propôr a venda.  O jogo político seria divertido se eles não estivessem todos unidos para nos ferrar – a mim e a você, meros pagadores de impostos que já nascemos devendo e vamos embora endividados.

Os opositores do governo alegam, entre outras coisas, que a tarifa vai subir. Os governistas, ao contrário, dizem que vai baixar. Têm bola de cristal? Então me informem os números da Mega Sena – Megassena? Mega Cena? Como se escreve essa porcaria? – Se eu tiver o resultado, vou lá jogar; caso contrário, não vou dar dinheiro pro governo; do ponto de vista estatístico, é mais fácil achar dinheiro na rua.

Vendo os prós e contras dessa negociata, lembro-me da pergunta de Olavo de Carvalho: está todo mundo doido nesse país?

Quase todos, professor. Ainda restam meus três leitores. Vejamos:

Hoje, o governo controla a Eletrobrás e o serviço é caro e é uma porcaria. (Controla é força de expressão.) Em outras palavras:  o controlador não consegue controlar.

Amanhã, a Eletrobrás será controlada por grupos privados sob a supervisão do governo – ou seja, no fundo, a obrigação do governo de controlar o controlador não muda.

Se o governo não controla hoje, como se espera que controle amanhã? Está todo mundo doido nesse país?

Basta ver as experiências anteriores de privatização: a qualidade dos serviços públicos no Brasil, seja qual for a modalidade, é a mesma porcaria e caro de qualquer jeito. Não conseguimos sequer tapar buraco na rua. As nossas tarifas de celular estão entre as mais caras do mundo por causa dos impostos. Os defensores do progresso objetarão que muita coisa melhorou. Então, pergunto aos sabichões: e muita coisa não piorou? Matança (de que serve um bom serviço se você estiver morto?), corrupção, aborto, divórcio, drogas, analfabetismo, saúde pública (há um século, Gilberto Freyre escreveu que o brasileiro servia mais para análise clínica do que pra força de trabalho; e hoje?)… Os sabichões dirão que uma coisa não tem nada a ver com a outra – tecnocrata é burro por definição.

Então, a discussão se a venda vai melhorar pro lado do povo é mera ficção. O que vai melhorar a vida do povo é o povo se melhorar a si mesmo por meio da educação verdadeira – na família, por pai e mãe; na família, essa instituição quase desaparecida – e por meio da religião.

Religião? O que é isso? Alguém ainda sabe?

PS – E a onça? Comeu algum gatuno nos lados do Itamaraty?

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