Quando chegaram onde é agora a entrada do Santuário, deram com um grupo de mulheres que estavam à espera dos videntes. Lá se via também, acompanhada do filho João, rapaz de 17 anos, aleijadinho, a Sra. Maria da Capelinha que já conhecemos e a quem demos novamente a palavra:
” (…) Lúcia (…) pôs-se de pé e gritou:
– Jacinta, lá vem Nossa Senhora, que já deu o relâmpago.
Todos três correram para a azinheira e nós atrás deles; ajoelhamos sobre as moitas e os tojos. A Lúcia levantou as mãos como em oração e eu ouvia-lhe dizer:
– Vossemecê mandou-me aqui vir, faz favor de dizer o que quer.
Então começamos a ouvir uma coisa assim, a modo duma voz muito fina, mas não se compreendia o que dizia; era como um zumbido de abelha!”
(…)
O que as cinquenta pessoas reunidas em volta da azinheira não tinham compreendido, é-nos revelado pela Irmã Lúcia das Dores:
– Quero que venhais aqui – respondera a Mãe do Céu – no dia treze do mês que vem, e que rezeis o terço intercalando entre os Mistérios a jaculatória: Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai todas as almas para o Céu, especialmente as que mais precisarem.
Quero que aprendais a ler – continuou a Virgem – e depois direi mais o que quero.
A Lúcia anima-se e pede a cura dum doente que lhe tinha sido recomendado.
A Senhora responde-lhe que, se se converter, curar-se-á durante o ano.
Mais corajosa ainda, a vidente suplica:
– Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu.
– Sim – responde a Virgem Santíssima – à Jacinta e ao Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração.
Ficar no mundo sem a companhia dos seus amiguinhos, sem os quais lhe parecia impossível viver, que pena!…
– Fico cá sozinha? – perguntou, um pouco assustada.
– Não, filha. E tu sofres muito com isso? Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.
Estas palavras cravaram-se profundamente na alma da pastora que irá sempre haurir, no Coração Imaculado da sua Mãezinha querida o conforto e o alívio para os seus sofrimentos, o amparo na luta terrível que terá de sustentar contra o inferno e o mundo coligados para abalar a sua fé e obstar a que as Aparições da Fátima produzam toda a soma de bem e de graça destinadas pela Divina Providência.
“Foi no momento que disse estas últimas palavras – continua a Irmã Lúcia – que a Virgem abriu as mãos e nos comunicou pela segunda vez o reflexo da luz imensa que A envolvia. Nela nos vimos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco pareciam estar na parte que se elevava para o Céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora estava um Coração cercado de espinhos que nele se cravavam. Compreendemos que era o Coração Imaculado de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação.”
Como na primeira aparição e nas subsequentes, a Virgem falava só com a Lúcia. Jacinta ouvia as palavras de ambas, ao passo que o Francisco nada ouvia, tendo conhecimento de tudo pela Lúcia.
Qual o motivo? Não sabemos. Nosso Senhor distribui as suas graças como quer e na medida que quer.
“Quando Nossa Senhora se retirou da árvore foi assim como o sopro dum foguete, lá muito ao longe quando sobe… – prossegue na sua narração a Sra. Maria.
A Lúcia levantou-se muito depressa e com o braço estendido dizia:
– Olha, vai ali, vai ali…
Por nós, nada vimos; só uma nuvenzita, um palmo retirada da rama, que ia subindo devagarinho, caminhando para diante, para o Nascente, até que de todo se sumiu. (…)”
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Retirado do livro Era uma Senhora mais brilhante que o sol, do Padre J. de Marchi, 14a Edição, 1993, Edições “Missões Consolata”, páginas 60 a 64.
Obs – Omiti 3 notas de rodapé: (1) sobre a jaculatória, (2) sobre a devoção ao Imaculado Coração de Maria e (3) sobre o fato de Nossa Senhora falar apenas com Lúcia.
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