Corisco é professor de karatê.
Blog: Que orientação você dá aos seus alunos caso sejam assaltados?
Corisco: Antes de mais nada, é preciso estar atento para antecipar os acontecimentos e evitar a situação de perigo. Muita gente acha que estar atento significa estar tenso. Nada mais errado; para prestar atenção nas coisas, é preciso estar calmo.
Em segundo lugar, se o assalto acontecer, é preciso evitar que inocentes sejam feridos; é muito melhor entregar um bem material do que prejudicar outras pessoas com a nossa ação.
Em terceiro lugar, se houver abuso por parte do bandido, aí sim é preciso fazer alguma coisa para evitar um mal maior.
E, por último, é preciso saber distinguir entre reagir bestamente e lutar para não ser morto. Sei de uma história em que o marido mandou matar a esposa; quando o assassino a abordou, ela pressentiu que ia morrer e por isso lutou com o bandido. O assassino disparou seis vezes; dois tiros atingiram a mulher – um no braço e outro na perna; ambos sem gravidade. Por isso, a frase “não pode reagir” deve ser contextualizada; uma coisa é reagir cegamente, outra é lutar para não morrer.
Blog: Estes conselhos são para os seus alunos. Mas o que você diz para o público em geral?
Corisco: A mesma coisa. É preciso estar em condições de se defender. Por isso, aconselho todas as pessoas a evitarem o sedentarismo e procurarem fazer alguma atividade física. Se desejarem fazer uma arte marcial, recomendo observar bem o professor antes de se matricular. Um bom professor pode ser reconhecido analisando a vida pessoal dele.
Blog: Por que a sociedade brasileira está, por um lado, tão violenta e, por outro lado, tão acovardada?
Corisco: As raízes dessa desgraça são profundas. Chegamos ao caos por causa da falência da família. Os jovens são aéreos e sem ideal de vida. Falta uma cultura de trabalho e a ociosidade tomou conta da vida das pessoas – todo mundo quer facilidade. Um filho de pais separados não tem convicção de nada; sente-se rejeitado e ele mesmo se rejeita. Pai e mãe são intermediados por um juiz – normalmente um burocrata frio que não está nem aí para ninguém. Um menino acorda à noite e sente falta do pai. O resultado são jovens lentos e paralisados, com medo do futuro.
Hoje se fala muito na qualidade dos governantes. Mas o povo precisa se melhorar a si mesmo para poder contribuir. Se os eleitores fôssem melhor preparados, os políticos bandidos não ascenderiam tão fácil ao poder. Atualmente, quase nenhum governante tem autoridade para falar de valores morais para a população.
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