Tradução do artigo A Plan to Assassinate Pope Pius XII?, de Ion Mihai Pacepa, publicado no World Net Daily.
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Exclusivo: o general ion Mihai Pacepa mostra como Stalin tentou matar o pontífice
Nota do Editor do WND: Hoje – data do 55º aniversário da morte do Papa Pio XII, ocorrida em 9 de outubro de 1958 – o WND está publicando, com exclusividade mundial, uma análise inédita a respeito de um plano nunca antes revelado do ditador soviético Josep Stalin para assassinar o Papa Pio XII.
O autor, general Ion Mihai Pacepa, é o oficial de mais alta patente da inteligência do bloco soviético que desertou para o Ocidente, após anos nos mais altos círculos do mundo da espionagem comunista no papel de alto conselheiro do presidente romeno Nicolae Ceausescu e chefe do serviço de inteligência para o exterior daquela nação. Após a deserção para os EUA, o primeiro livro de Pacepa, Red Horizons, levou o crédito de ter tido um papel decisivo na queda do tirano comunista Ceausescu e foi adotado pelo presidente Ronald Reagan que o chamou de “minha bíblia para lidar com ditadores”.
O mais recente livro de Pacepa, escrito em coautoria com o historiador Ronald Rychlack, intitula-se Disinformation: Former Spy Chief Reveals Secret Strategies for Undermining Freedom, Attacking Religion, and Promoting Terrorism. Uma das maiores campanhas de desinformação soviética expostas pelo livro é o elaborado e maníaco esforço para “retratar” o Papa Pio XII como um colaborador de Hitler – quando a verdade é exatamente o oposto. Winston Churchill chamou Pio XII de “o maior homem do nosso tempo” e Albert Einstein escreveu: “Somente a Igreja protestou contra o violento ataque de Hitler contra a liberdade. Até então, eu não tinha me interessado pela Igreja mas hoje eu sinto uma grande admiração por Ela que, sozinha, teve a coragem de lutar pela verdade espiritual e pela liberdade moral.” Na verdade, o rabino chefe de Roma e sua esposa, Israel e Emma Zolli, se converteram ao Catolicismo e Zolli adotou o nome cristão de Eugênio em homenagem ao homem que, de acordo com ele, tanto fez para proteger os judeus durante a guerra: o Papa Pio XII, nascido Eugênio Pacelli.
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Josep Stalin tentou assassinar o Papa Pio XII?
Hoje, há fortes evidências que sim. E, do ponto de vista do tirano russo, por que não? O fim da Segunda Guerra Mundial abriu o horizonte de Stalin para o grande jogo da política internacional e deu a ele a confiança de que, com um pouco de criatividade, ele e a Rússia poderiam se tornar o Número 1 do mundo. Ele enxergou no Papa Pio XII o seu único rival para a dominação mundial.
Stalin sabia que não podia controlar o Papa e a sua enorme esfera de influência da mesma maneira como podia controlar a Igreja Ortodoxa – tendo o patriarca russo no bolso do colete. Desde tempos imemoriais, tem sido uma tradição russa simplesmente assassinar os rivais se o apoio deles não puder ser conquistado. Para Stalin, a maneira óbvia de neutralizar a poderosa e vasta Igreja Católica era cortar a Sua cabeça.
Assim como Pedro III foi assassinado para que a esposa pudesse se tornar a czarina Catarina, a Grande, Stalin também planejou o assassinato de todos os outros membros do Politburo de Lênin para poder se tornar o líder da União Soviética. Além disso, Stalin acreditava que, em política, se a cabeça fôsse eliminada, o corpo definharia. Ele tinha visto a sua convicção comprovada pelo assassinato de Leon Trótsky em 1940, após o qual todo o movimento trotskista simplesmente desaparecera, ao contrário do que os seus conselheiros tinham previsto. Por que a mesma tática não funcionaria com a Igreja Católica?
Desde que se aventurou no cenário internacional, o Kremlin tem exibido um impaciente dedo no gatilho em suas lutas contra o Vaticano. Nâo apenas muitos sacerdotes católicos foram sacrificados na Rússia mas, em particular, houve muitas tentativas de assassinar o Papa João Paulo II. Ele não apenas seguiu o exemplo de Pio XII ao condenar vigorosamente o comunismo mas também foi responsabilizado por incitar o seu rebanho na Polônia para se insurgir contra os dominadores soviéticos.
No dia 13 de maio de 1981, o Pontífice escapou por pouco de ser assassinado por uma bala disparada por um turco de nome Mehmet Ali Agca. Capturado no ato, Ali Agca confessou ter agido sob orientação búlgara. Os resultados de uma investigação italiana oficial, mais tarde confirmados por documentos encontrados nos arquivos da Polônia e Alemanha Oriental da era comunista, confirmam que a tentativa de assassinato do Papa João Paulo II de 1981 (e diversas outras) teve origem no Kremlin.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Stalin já tinha aberto o precedente de tentar resolver as lutas com o Vaticano usando a solução simples e letal, embora ainda não fosse corajoso o suficiente para fazer ele mesmo pontaria contra o Papa.
No verão de 1942, o chefe da agência de inteligência de Stalin em Roma ficou sabendo que Pio XII tinha conversado com o enviado do presidente Roosevelt para o Vaticano sobre uma tentativa de formular um acordo de paz em separado para Grã-Bretanha, EUA e Alemanha – deixando, assim, a União Soviética fora dos planos para a Europa pós-guerra. Pio XII tinha orientado o seu representante em Ancara a pedir o apoio para o plano do embaixador alemão local, Franz von Papen, tido como substituto de Hitler se o acordo de paz vingasse. Ao saber disso, Stalin teria ficado tão furioso a ponto de ter ordenado a Pavel Sudoplatov, chefe do seu setor de Operações Especiais (ou seja, assassinatos), que matasse Papen, já que ele seria a figura central no planejado novo governo alemão. Sudoplatov despachou imediatamente o seu mais experiente oficial assassino para a Turquia, onde ele ficou oito meses organizando a operação. Por fim, entretanto, o búlgaro recrutado para puxar de fato o gatilho ficou tão nervoso que estragou a operação, matando apenas a si mesmo e ferindo levemente Papen.
Stalin nunca esqueceu do que ele considerava uma traição do Papa. Quando a guerra se aproximava do fim, Stalin perguntou ironicamente: Quantas divisões tem o Papa? A Rádio Moscow recebeu a incumbência de montar uma campanha de difamação contra Pio XII para deixá-lo sem ação. A operação não deu certo mas Stalin evidentemente continuou procurando um jeito de aniquilar Pio XII de uma vez por todas. Veio, agora, à luz uma evidência intrigante de que Stalin no fim da década de 1940 deve ter ordenado aos seus especialistas em assassinato para encontrarem uma forma de simplesmente varrer Pio XII do mapa.
Inimigo mortal de Stalin
No fim da Segunda Guerra Mundial, Stalin estava em alta – tão em alta que acalentava sonhos de grandeza: sob sua liderança, o mundo inteiro logo seria comunista.
Stalin se assegurou de que todos soubessem que os seus soldados soviéticos tinham sido o fator decisivo para vencer a guerra. Enquanto os seus antigos aliados – EUA, Grã-Bretanha e França – estavam focados em fazer as suas economias voltarem a funcionar com sucesso em tempo de paz, os serviços de inteligência (militar, segurança externa e partidária) de Stalin estavam fazendo um extraordinário trabalho infiltrando-se nos governos daqueles antigos amigos e gradualmente conquistando-os para o lado socialista. Por razões similares, ele acreditava que não demoraria muito para que a Alemanha se unificasse e pendesse para o lado socialista. O seu trabalho de conquista de toda a Europa Oriental estava indo bem, graças aos hábeis esforços de alguns poucos devotos “negociadores” como Andrey Vyshinsky, ajudados pela mão pesada do grupo de oficiais de inteligência ilegais, chamado Operações Especiais, de Pavel Sudoplatov, os quais estavam levando a cabo sequestros e assassinatos fora das fronteiras soviéticas.
No início de 1936, paralelamente ao setor de inteligência para o exterior responsável por operações centralizadas nas representações soviéticas estrangeiras oficiais, Stalin criou dentro do seu serviço de inteligência para o exterior um setor de assassinatos extremamente secreto denominado Diretoria de Operações Especiais – mais tarde conhecido coloquialmente como mokriye dela, que significa assuntos “molhados” (ou sangrentos). As Operações Especiais eram compostas por dezenas de oficiais ilegais e tocavam as suas próprias operações independentemente do resto do serviço de inteligência para o exterior.
Desde 1994, com a publicação das fascinantes memórias do antigo chefe das Operações Especiais, Pavel Sudoplatov, aprendemos mais do que talvez jamais tivéssemos desejado sobre as operações daquela organização. Sudoplatov tinha orgulho do seu serviço, era totalmente impenitente, meticuloso no seu relato e escrupulosamente dedicado a verificar os fatos sempre que possível. As suas memórias são plenamente críveis, embora haja pouca informação de comprovação disponível. De forma breve, Sudoplatov descreve as Operações Especiais “como responsáveis por sabotagens, sequestros e assassinatos de nossos inimigos fora das fronteiras do país”.
A guerra podia ter acabado, mas, à medida que a década de 1940 avançava, e à medida que Stalin reconhecia o seu crescente império e a sua própria crescente importância no cenário mundial, ele certamente acreditava que tudo estava caminhando segundo a sua vontade e o Vaticano era o único desmacha-prazeres. Para ser específico, o desmancha-prazeres ainda era o Papa Pio XII, que estava encorajando os católicos da Europa Oriental a resistir à tomada das igrejas pela Igreja Ortodoxa russa e à tomada dos governos dos seus países pelos comunistas. (O Papa falava com franqueza e consistência em suas críticas ao comunismo. Na realidade, em 1949, ele desafiaria os comunistas excomungando o Partido Comunista.) Pio XII tornou-se inimigo mortal de Stalin.
Mas Stalin não era bobo. Se a exitosa eliminação do emigrante outrora seu principal rival, sem ter causado nenhuma repercussão negativa contra a União Soviética, demorara quase dois anos de planejamento meticuloso em um lugar favorável e caótico como a Cidade do México, com mais razão o assassinato de um líder mundial morador de um enclave ocidental fortemente protegido apresentaria um enorme obstáculo operacional e um risco ao recém-conquistado prestígio internacional de Stalin se algo desse errado.
Num primeiro momento, entretanto, Stalin aparentemente pensou que, se Pio XII pudesse ser difamado como tendo sido apoiador dos nazistas alemães durante a guerra – algo considerado ofensa mortal –, tal operação poderia dar cabo de todo o problema que o Vaticano representava para ele. (O mundo poderia ser seduzido para cair na mentira caluniosa pois Pio XII havia sido núncio do Vaticano na Alemanha, embora isso tenha ocorrido antes dos nazistas chegarem ao poder e, na verdade, ele nunca ter se encontrado com Hitler.) Assim, em 3 de junho de 1945, a Rádio Moscow começou a dizer ao mundo que o Papa havia sido pró-nazista e não havia feito nada para ajudar os judeus. O problema com esse ataque era que o Papa ainda estava vivo, bem como muitas das pessoas que ele havia salvo do poderio nazista; assim, ninguém prestou nenhuma atenção a mentiras tão óbvias vindas da rádio oficial de Moscow.
O que fazer? Naquele momento, Stalin voltou a sua atenção para membros menores da Igreja Católica bem à sua mão. No período imediatamente pós-guerra, Stalin eliminou muitos dos seus rivais tanto na União Soviética quanto na Europa Oriental difamando-os como tendo sido pró-nazistas e jogando-os em prisões ou gulags, dos quais eles poderiam ou não sair vivos. Stalin usou essa tática contra centenas de sacerdotes católicos romanos no seu recém-adquirido domínio leste-europeu e até mesmo contra inimigos proeminentes como o Cardeal Alojzije Stepinac na Iuguslávia em 1945 e contra o Cardeal Joszef Mindszenty na Hungria em 1948. Os dois prelados foram torturados e mantidos presos durante muitos anos, mas, sob pressão internacional, soltos. Muitos clérigos de menor escalão foram simplesmente mortos tão logo capturados.
Especialista em planejar assassinatos
Agora, uma nova evidência veio à luz sugerindo que, longe de ter esquecido Pio XII, Stalin, em 1947, deve ter começado a trabalhar sob total segredo para realmente mandar matá-lo.
Selecionado para a tarefa foi, evidentemente, Iosif Grigulevich, provavelmente o mais notável e versátil oficial ilegal da inteligência russa da história, personagem ainda praticamente desconhecido no Ocidente. Nascido em 1913 como judeu lituano, entrou na adolescência para a Cheka e desenvolveu um talento especial para assumir com perfeição identidades ocidentais, particularmente as latino-americanas. Toda a sua carreira na inteligência decorreu nas Operações Especiais, organizando operações de assassinato primeiramente na Lituânia, em seguida na Espanha durante a Guerra Civil e, com maior fama, na Cidade do México, culminando na organização da morte de Leon Trótsky em 1940. Grigulevich passou a maior parte da Segunda Guerra Mundial na Argentina, treinando equipes de estivadores para sabotar navios alemães de passagem por aquele país.
No pós-guerra, Grigulevich desempenhou a sua mais espantosa personificação, encarnando Teodoro B. Castro, alegadamente o filho ilegítimo de um rico costa-riquenho recém-falecido. Em 1949, ele e sua esposa (uma agente por ele recrutada no México que também ganhou uma nova identidade como uruguaia) se estabeleceram em Roma. Lá, ele fingiu ser um rico comerciante de café, cativou o presidente da Costa Rica em visita a Roma envolvendo-o como se fôsse um parente e gastou o tempo em conversas amigáveis no serviço diplomático, tornando-se em 1952 o ministro plenipotenciário costa-riquenho para a Itália, bem como, mais tarde, assumindo simultaneamente o cargo de ministro costa-riquenho não-residente para a Iuguslávia.
Avançando um pouco, notamos que, no começo de 1953, Grigulevich (ainda em Roma) foi indicado a Stalin pelo comando de segurança do alto escalão como a única pessoa qualificada para eliminar pessoalmente o líder iugoslavo Josif (Broz) Tito, cuja arrogante independência enfurecera o líder soviético. Salientou-se que Grigulevich tinha um extraordinário recorde nesse tipo de operação e que podia facilmente conseguir credenciais diplomáticas em Belgrado. Porém, quando Sudoplatov, chefe das Operações Especiais, foi consultado, ele se posicionou veementemente contra as sugestões do alto comando, dizendo que o plano operacional proposto era infantil e tolo e não incluía plano de escape para o oficial; que Grigulevich não tinha “experiência de combate”, tendo sido previamente incumbido apenas de preparar assassinatos, não de tomar parte no ataque real; e que aquele plano exibia mau tradecraft [NT: conjunto de métodos usados em operações clandestinas] ao propôr o envio de um oficial sem treinamento para matar um alvo fortemente protegido sem ter tido nenhuma chance de estudar a situação circundante.
Stalin concordou que o plano devia ser repensado. Logo em seguida, Stalin morreu e a proposta foi presumivelmente arquivada, apesar de Grigulevich ter aberto relações com Belgrado e ter designado um funcionário consular para lá.
Por que outra razão Grigulevich foi primeiramente mandado para Roma a não ser pelo fato de estar visando o Vaticano? Toda a sua carreira foi como oficial das Operações Especiais, e, de Sudoplatov, aprendemos que a sua especialidade era planejar assassinatos. Certamente, a única pessoa em Roma que Stalin queria eliminar era Pio XII. (Sudoplatov, que evidentemente não estava diretamente envolvido com a designação de Grigulevich para Roma, o descreve como tendo sido “embaixador para o Vaticano”, em uma talvez reveladora escorregadela de língua.)
Mais ainda, por que Grigulevich estava disfarçado de costa-riquenho, quando ele teria estado mais confortável fingindo ser da Argentina, um país com o qual tinha se familiarizado durante a guerra? Aqui podemos citar um fato ainda mais sugestivo. No dia 22 de fevereiro de 1947, um certo Prince Giulio Pacelli – de acordo com o seu passaporte, cuja fotocópia está publicamente disponível – se tornou o ministro plenipotenciário costa-riquenho para a Santa Sé. O anúncio público daquela nomeação foi indubitavelmente comunicado a Moscow pelo chefe do posto soviético em Roma. Pio XII tinha o nome civil de Eugenio Pacelli e era tio de Giulio.
Antes de ir para Roma em 1949, Grigulevich passou vários meses na América do Sul aperfeiçoando a sua nova identidade. Uma biografia costa-riquenha de Grigulevich recentemente publicada revela algumas coisas muito interessantes sobre a sua preparação para a nova incumbência. Ele se familiarizou com o Brasil e com o Uruguai, países nos quais ele teria alegadamente vivido. No Chile, dois membros locais do Partido Comunista que tinham servido com ele na Espanha devotaram meses e meses trabalhando com ele no seu novo personagem. Eles escolheram o nome Teodoro Castro Bonnefil, o qual Grigulevich converteu “de maneira americana” para Teodoro B. Castro, e eles o ensinaram como encontrar e cultivar amizades com costa-riquenhos importantes, diplomatas ocidentais influentes e altos membros da Igreja Católica. Eles escolheram o nome Teodoro porque diziam significar “dádiva de Deus”. Disseram que ele tinha de ser um católico devoto, pois isso atrairia a confiança de outras pessoas que fôssem religiosas. E foi sugerido que ele precisava ter algum título estilo eclesiástico, algo como Cavalheiro do Santo Sepulcro. Todos esses detalhes sugerem que tanto ele como os seus treinadores sabiam que o foco dele estaria no Vaticano.
Como planejador de assassinatos, Grigulevich sabia que devia ir aprendendo lenta e cuidadosamente milhares de coisas sobre o ambiente-alvo, o Vaticano, levando talvez até mesmo anos para planejar uma operação de sucesso contra o Papa. Quem tinha acesso ao Papa? Quantos agentes seriam necessários e de onde viriam? Onde ele poderia encontrar locais seguros para o planejamento da operação e para o treinamento dos agentes? Qual seria a arma de ataque e de onde ela viria? Quem poderia providenciar os documentos de identidade falsos para os agentes? Que rota de fuga poderia ser usada? Depois do fato consumado, que tipo de desinformação poderia ser planejada para garantir que Moscow não pudesse ser responsabilizada?
Chegando em Roma, Grigulevich rapidamente fez muitos amigos mostrando-se uma boa companhia e dando festas nababescas (graças à generosidade de Moscow). Ele conheceu diversos cardeais , um dos quais se tornou particularmente um bom amigo e o ajudou a impressionar os visitantes – como o presidente da Costa Rica – conseguindo audiências com Pio XII.
O arquivista da KGB Vasili Mitrokhin, que desertou para a Grã-Bretanha em 1993, relatou ter visto o prontuário pessoal (não operacional) de Grigulevich nos arquivos da inteligência para o exterior da KGB. O arquivo alardeava que Grigulevich “cultivou com sucesso o núncio costa-riquenho [sic] para o Vaticano, Giulio Pacelli, sobrinho do Papa Pio XII” e também “teve um total de quinze audiências com o Papa”. (Apesar das Operações Especiais terem sido integradas à inteligência para o exterior regular na década de 1950 sob diversos nomes, incluindo o famigerado Department Thirteen, os seus arquivos operacionais jamais foram anexados aos arquivos vistos por Mitrokhin. A sugestiva informação acima citada evidentemente foi inserida sutilmente como simples jactância quando o prontuário foi sanitarizado para arquivamento.)
Stalin morreu em 5 de março de 1953, antes que Grigulevich fôsse capaz de concluir um plano detalhado para assassinar Pio XII. A operação para assassinar Tito foi cancelada, pelo menos naquele momento, e o mesmo deve ter ocorrido com qualquer assunto envolvendo o Vaticano. Na confusão pós-liderança de Stalin em Moscow, qualquer pensamento de operações de grandes dimensões com potencial de crise internacional seria, pelo menos, colocado na espera. Ao comentar o plano para assassinar Tito, Sudoplatov enfatizou a necessidade de planejamento meticuloso, pois seria “a primeira operação contra um chefe de estado, não contra um emigrante ou contra um agente de lealdade questionável”.
Após a morte de Stalin, entretanto, Grigulevich permaneceu no seu posto de disfarce em Roma aguardando. Ele foi chamado de volta em dezembro de 1953 apenas porque o comando de Moscow acreditava, corretamente, que a sua identidade havia sido comprometida pelo antigo desertor Alksadr Orlov. Orlov havia trabalhado com Grigulevich na Espanha em 1930, e em 1953 começara a publicar histórias e fotos na revista americana Life. Informações sobre o assassinato de Trótsky também estavam começando a vazar graças às indiscrições de Caridad Mercader, a mãe do assassino, que havia participado da operação na Cidade do México. (Aliás, tanto Grigulevich como Caridad receberam medalhas soviéticas pelo assassinato de Trótsky, uma Estrela Vermelha e uma Orderm de Lênin, respectivamente. O filho dela, o real assassino, foi elevado a Herói da União Soviética.)
Dada a natureza da experiência de Grigulevich e sua especialidade muito definida, tudo leva a crer que ele tenha passado o resto do ano de 1953 coletando informações de segundo plano no Vaticano e também evidentemente em Belgrado, embora não tenha sido capaz de organizar planos operacionais detalhados dirigidos contra Pio XII ou Tito. Quando Moscow mandou Grigulevich abandonar Roma, ele inventou uma história para consumo público, dizendo que a esposa estava muito doente e precisava de tratamento na Suíça. O serviço diplomático costa-riquenho atendeu sua solicitação de uma licença de trabalho prolongada para que pudesse acompanhar a sua esposa a um hospital na Suíça. Em 5 de dezembro de 1953, o motorista da missão diplomática levou os Castro à estação de trem em Roma e os viu partir para a Suíça. Nunca mais se ouviu falar do casal.
Logo em seguida, dois outros funcionários da missão diplomática costa-riquenha desapareceram misteriosamente. Um deles era um jovem uruguaio trazido por Grigulevich para a missão diplomática em 1951 como adido. O outro era um cônsul costa-riquenho de Milão, a quem Grigulevich havia favorecido e enviado para a nova missão diplomática em Belgadro em abril de 1953.
Em dezembro de 1954, como a sua ilustre carreira como oficial ilegal tinha sido definitivamente comprometida, Grigulevich foi aposentado da segurança estatal soviética com honras e se estabeleceu em Moscow. Ele estudou para se tornar acadêmico, publicando depois muitos livros sob o nome Lavretsky (o nome de solteira da mãe) sobre assuntos relacionados ao Vaticano e à América do Sul. Morreu em Moscow em 1988.
O Papa Pio XII morreu em 9 de outubro de 1958, universalmente aclamado por líderes mundiais, tanto cristãos como judeus.
Com o seu especialista organizador de assassinatos então indisponível, e com toda Moscow embrenhada nas manobras de sucessão política seguintes à morte de Stalin, logicamente não havia naquele momento interesse do Kremlin em perseguir nem Pio XII nem Tito. Após ter consolidado a sua liderança sobre a União Soviética, Nikita Khrushchev concentrou esforços na pacificação de Tito e na difamação do Papa para mantê-los na imobilidade, apesar de ainda acreditar piamente que as operações de assassinato eram um dos privilégios do seu novo cargo.
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Algumas fontes do artigo
David Dastych, “New investigation: KGB behind all plots to assassinate John Paul II: Ali Agca’s Secret Services,” Canada Free Press, May 19, 2006.
Pavel and Anatoli Sudoplatov, with Jerold L. and Leona P. Schecter, “Special Tasks: The memoirs of an unwanted witness – a Soviet spymaster” (Boston: Little, Brown, 1994).
Christopher Andrew and Vasili Mitrokhin, “The Sword and the Shield: The Mitrokhin Archive” (New York: Basic Books, 1999).
Marjorie Ross, “El secreto encanto de la KGB: Las cinco vidas de Iósif Griguliévich” (Heredia, Costa Rica: Grupo Editorial Norma, 2004).
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