Muita gente torce o nariz quando a Igreja ensina que o pecador tem até o último suspiro para se resolver com Deus. “Como é que pode? O cara passa a vida inteira barbarizando e basta se arrepender que vai para o Céu?” O gaiato não diz, mas fica subentendido “… vai para o Céu junto comigo, que passei a vida inteira beirando a santidade!”
Ha!
Antes de mais nada: você acha mesmo fácil uma pessoa passar a vida toda longe de Deus e, de repente, virar santo? Vou dar um exemplo. Pense num pecador – bandido, corrupto, trapaceiro. Pensou? Isso é fácil no Brasil de hoje! Então, você acha que é fácil para um porqueira desse se arrepender? Seria mais ou menos como se ele tentasse convencer você – que é honesto, trabalhador e do bem – que o bom mesmo é roubar, matar, mentir. A mesma dificuldade que você tem para virar bandido, um bandido tem para virar uma pessoa de bem.
Em segundo lugar, os despeitados com a Igreja de Cristo normalmente se esquecem de olhar para o próprio rabo. Quem, por um instante pensa na insignificância de que é feito, engole as palavras ao meditar na santidade da Cabeça da Igreja – Nosso Senhor Jesus Cristo.
Além de tudo, mesmo que o infeliz, pela graça de Deus, se arrependa no leito de morte, ele fica perdoado dos pecados mas não da pena. Vai ter que pagar tudinho no Purgatório. O Purgatório é onde as almas se purificam para poderem se apresentar a Deus, já que Ele, a Suma Pureza, não tolera nada de impuro perto dEle. Às vezes a gente pensa no Purgatório como uma sala de espera para o Paraíso, um lugar onde, dentro de instantes, vamos nos encontrar com Deus. Nada mais longe da verdade. O Purgatório é local de sofrimento, e o sofrimento lá consiste em tentar ir para Deus e não conseguir. Já teremos nos livrado de todas as porcarias terrenas que antes nos consolavam e nos enganavam e a nossa alma ansiará por Deus como um sedento anseia por água.
Por tudo isso, muita gente se espanta com o Evangelho de hoje, em que Cristo – a Realeza – dialoga com um ladrão – a safadeza – e promete a ele o Paraíso. O bom ladrão é um privilegiado: foi a única pessoa a receber a promessa da salvação da boca do próprio Cristo. Como ele conseguiu essa proeza?
Em dois passos. Primeiro: reconhecendo a realidade do seu pecado (leia-se auto-conhecimento ou, em linguagem cristã, humildade). Segundo: pedindo a ajuda de Deus.
Nada que não esteja ao nosso alcance, certo?
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