Quando Garotinho estava sendo levado do hospital para a cadeia, a filha – ou esposa, ou ambas – gritava “Ele não é bandido!”.

Não é bandido? É o quê? Monge?

Isso retrata a mentalidade brasileira, bandido é quem assalta com arma na mão; colarinho branco não é bandido, é quase um santo, é uma pessoa que se destacou da multidão dos espertos mortais brasileiros, é uma pessoa olhada com inveja, é um poderoso a quem se pede favores.

Qual, por exemplo, a diferença entre um bandido que assalta um supermercado com arma na mão para conseguir 100 ou 200 reais e um funcionário público que não cumpre o horário ganhando 5, 10 ou 15 mil por mês? Vou dizer qual a diferença: o bandido é mais homem, está arriscando o pescoço, está disposto a matar ou morrer.

Enquanto as pessoas de bem não tiverem vergonha na cara e assumirem a tarefa da santificação pessoal, a polícia pode continuar prendendo à vontade colarinhos brancos e colarinhos sujos que a sociedade continuará gerando garotinhos e mais garotinhos dispostos a roubar à mão armada – com arma ou com caneta.

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