Dentre os inúmeros desafios que a cidade de São Paulo apresentará ao novo prefeito estão, certamente, transporte, moradia e orçamento.

A minha sugestão sobre o transporte é muito simples: ressuscitar o defunto SEMCO – SEMáforos COordenados, programa da década de 1980 que criava uma rede de semáforos informatizada que se adaptava instantaneamente às necessidades do trânsito. Hoje, a cidade tem semáforos totalmente desencontrados: você sai de um semáforo fechado para pegar outro fechado. Parece piada mas é uma verdadeira máquina de fazer doido. O novo SEMCO pode começar pequeno, no centro, e ir se expandindo aos poucos em direção aos bairros. É uma medida que vai ajudar todo mundo: motoristas de carro, de veículos de carga, ônibus, motociclistas, ciclistas, taxistas e urberistas. Também vai ter impacto ambiental: menos poluição causada por congestionamentos e menor desgaste dos veículos. Acima de tudo, vai melhorar a saúde mental dos pobres motoristas paulistanos.

Quanto à moradia, as leis de construção têm de favorecer o adensamento populacional, ou seja, trazer os moradores dos bairros para vir morar no centro. Os empregos estão no centro da cidade. Não tem sentido o povo gastar duas ou três horas para chegar no trabalho enquanto os bairros próximos ao centro são ocupados por sobrados ou mesmo cortiços. Se o povo morar no centro ou perto dele, os problemas de transporte serão automaticamente minimizados. As leis atuais estão indo na contramão e reduzindo cada vez mais a altura dos prédios e a taxa de ocupação. Além de diminuir a oferta de moradias, essas leis perversas encarecem a construção e por isso desestimulam o lançamento de novas unidades habitacionais – um verdadeiro tiro no pé!

No campo orçamentário, o cobertor é sempre curto. A Constituição de 1988 espalhou tantos “direitos” que o governo ficou responsável por quase tudo. Haja grana! Então, a minha sugestão para cortar custos é adotar o uso de software Open Source. Open Source não é, necessariamente, software grátis, porque há o custo de treinamento e suporte, mas, se adotado, haverá a economia com o custo de licenças. Além do mais, o software livre tende a ser mais seguro – e, portanto, mais produtivo – porque o código é aberto, podendo ser analisado e, se necessário, corrigido com mais facilidade. Como enunciou Eric S. Raymond: “Dados olhos suficientes, todos os erros são triviais” (Lei de Linus).

O software Open Source traz ainda um benefício adicional: a transparência. A esse respeito, criticando o software proprietário – aquele em que o código-fonte não é disponibilizado -, escreveu Bruce Schneier:

Cada vez mais, software proprietário está sendo usado em aplicações críticas: urnas eletrônicas, dispositivos médicos, bafômetros, distribuição de energia elétrica, sistemas que decidem se alguém pode ou não embarcar num avião. Estamos cedendo mais controle das nossas vidas a softwares e algoritmos. Transparência é a única forma de verificar se eles não estão nos enganando.

Precisamos ter a capacidade de verificar o software que controla as nossas vidas.

E, por fim, desejo boa sorte ao novo prefeito. Apesar das demandas acumuladas nos últimos anos e apesar do embate político que certamente não dará tréguas, o novo prefeito poderá contar com a boa vontade de uma população cansada de ideologias e que quer, simplesmente, trabalhar e viver em paz.

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