Ouvi dizer que a famigerada lei Maria da Penha completou dez anos de existência. O fato me fez lembrar uma história – verídica! – que uma amiga me contou anos atrás.
Zezinha (nome fictício) e Ricardão (nome fictício) formavam um lindo casal, desses que a gente espera que vá viver “felizes para sempre”. Acontece que a alegre existência do par foi toldada pela dúvida da traição. Zezinha começou a desconfiar que Ricardão tinha uma amante. Vai daqui, vai dali, ela acabou por descobrir a verdade. O marido estava de caso com uma tal de Zefa (nome fictício), com quem se encontrava regularmente para momentos de amor.
O que fez Zezinha? Tirou satisfação com o marido? Escândalo? Tiro? Capou?
Nada disso! Essas atitudes impensadas são coisas de amador – coisa de homem, que perde a cabeça e comete loucuras.
Mais radical do que o homem – no amor e no ódio – a mulher é capaz dos feitos mais heróicos e das ações mais mesquinhas. Es de vidrio la mujer, pero no se ha de probar si se puede o no quebrar, porque todo podría ser – sábias palavras do nosso irmão Cervantes. Veja, por exemplo, o episódio da Guerra do Vietnã. Quando a coisa recrudesceu, cogitou-se enviar mulheres para o combate para tornar o conflito mais “humano”. As feministas americanas – que nenhum interesse tinham em defender as mulheres soldados – foram as primeiras a dizer: Pode mandar, mas a coisa vai ficar pior.
Fiel à tradição do seu sexo, Zezinha deixou a raiva passar e, com frieza e cálculo, traçou o seu terrível plano.
Aos poucos, começou a demonstrar desinteresse por Ricardão. Deixou o relacionamento esfriar e a rotina tomou conta da vida deles. Vai daqui, vai dali, em pouco tempo, eles chegaram à conclusão que o melhor era cada um seguir o seu caminho.
Separado o casal, o que fez o solitário Ricardão? Foi morar com Zefa, logicamente. Assim, tudo se acertou: Ricardão e Zefa juntos – felizes para sempre – e Zezinha no seu canto, curtindo a sua feliz solidão.
Foi então que Zezinha colocou em execução a segunda parte do seu diabólico plano. Começou a dar em cima de Ricardão. Como conhecia como ninguém o ex-marido, o infeliz foi presa fácil e acabou por se tornar amante de Zezinha, com quem se encontrava clandestina e regularmente para reavivar as antigas lembranças de amor.
Depois que o novo arranjo estava bem assentado, Zezinha se vingava ligando para Zefa:
– Na quinta-feira vou me encontrar com o seu marido. Quero que ele esteja bem asseadinho. Cuide bem dele, igual eu cuidava dele pra vocẽ.
Barraco? Facada? Polícia? Isso é coisa para amador.
Como disse o nosso grande irmão – quase nosso mestre, talvez nosso guru – Millôr Fernandes:
– Mulher já nasce adulta.
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