O que é a Arte? Não sabemos direito. Não sabemos o que fazer com ela. Somos como um selvagem que encontra na praia um objeto bonito e o admira e sente que aquilo lhe diz qualquer coisa e o guarda sem saber para que serve. Quem escreveu isso foi Alexander Soljenítsin em seu livro Uma Palavra de Verdade.
A arte serve para nos aproximar de Deus. Ante a beleza de uma obra-prima, instintivamente comparamos a nossa mediocridade com o gênio do artista e a nossa pequenez com a grandeza de Deus. O belo é o resplendor da verdade dizia São Tomás de Aquino.
Veja, por exemplo, a mais bela de todas as criações humanas – a Pietà, de Michelângelo. À primeira vista, impressiona todo o conjunto da obra, nascida de um pedaço de pedra bruta. Como contraste, a delicadeza do rosto de Maria salta da escultura. Como foi possível expressar toda a dor e toda a tristeza humanas e, ao mesmo tempo, toda a compreensão sobre a natureza do pecado a que um ser humano pode chegar? Como mostrar a fé de uma mulher contra toda a esperança?
Passado este impacto inicial, um detalhe destoa da solidez da pedra. Num gesto autobiográfico do canhoto artista, a mão esquerda da Pietà se projeta no ar, indicando alguma coisa e nos levando a meditar.
A mão esquerda da Pietà mostra… “Veja o que faz o pecado. Veja o que o seu pecado faz.” O pecado é deicida. Não o pecado dos outros (é até gostoso falar do pecado dos outros, não é verdade?) mas o pecado de cada um de nós. E sentimos vontade de dizer: “Senhor, afasta-Te de mim porque sou um homem pecador.”
A mão esquerda da Pietà pede… “Venham, todos os que passam, e vejam se há dor como a minha dor.” E Maria pede que seguremos a sua mão para ajudá-la em sua hora mais difícil. A hora mais difícil para uma mulher, quando a natureza inverte a ordem das coisas e a mãe tem que sepultar o filho. Não uma mãe qualquer, não um filho qualquer…
A mão esquerda da Pietà ampara… “Vinde a Mim vós todos que estais fatigados…” Como outrora amparou o Menino Jesus, a mão de Maria agora se estende em nossa direção para que nos momentos mais tristes da vida nos lembremos que temos duas mães que velam sobre o seu indefeso filho.
A mão esquerda da Pietà ensina… “Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero; sê limpo. E o leproso ficou curado imediatamente”. Os gestos do Filho do Homem, herdados da convivência e do sangue de Maria, lembravam os gestos de sua mãe. Eram repletos de significado. Um simples aceno da mão esquerda da Pietà nos ensina que mesmo os nossos menores gestos podem ser cheios de amor de Deus.
A mão esquerda da Pietà indica… “Fazei tudo o que Ele vos disser.” Maria nos mostra o caminho para a felicidade. A felicidade, ensinou Viktor Frankl, não está tanto no agir ou no fruir mas principalmente na atitude perante as situações inexoráveis quando o homem intui o verdadeiro significado da dor e toma consciência de quem é. Percebe que não é Deus. Nestas situações limite não há meio termo. Ou abraçamos com amor a vontade de Deus ou nos revoltamos contra ela. Eis o segredo da alegria: perscrutar os acontecimentos buscando a vontade de Deus como os antigos perscrutavam as Escrituras julgando encontrar nelas a vida eterna. “Até mesmo elas dão testemunho de Mim.”
Num mundo esquecido de Deus e esquecido de Jesus Cristo, o melhor conselho para nós – não só para esta Semana Santa, não só para esta Páscoa, mas para toda a vida – é “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Um lema para a vida inteira para quem vive de fé.
Feliz Páscoa!
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Adaptado do blog Letters To Hungary.